chutando cavalo morto
A porta que batia atrás de mim tinha um som que mais me parecia angústia. O som da madeira contra a madeira, como se a tortura fosse mútua. Toda sua fibra, toda sua dureza, sentindo o peso do impacto. Em meus ombros, resquícios das lágrimas, evidenciadas pelas manchas no tecido escuro de minha camisa. Queria que aquilo fosse um sonho. Seus olhos de pavor misturados com sentimentos de carinho que outrora tinha em abundância e que não terei novamente, sei que foi a última vez que foram meus.
A tarde caía; o cigarro que fumava me deixava transparecer o tédio da falta daquele ser único e tão igual a todo o resto. Desprezado, só me resta o nada, o vazio da tarde, o desespero. Há poucas coisas mais depressivas e repulsivas do que o desprezo. O sentimento de cada soco esporádico que eu dava na parede (um de meus muitos métodos de aliviar a dor interna era produzindo a dor externa) me fazia esquecer por um segundo a minha angústia, mas rebentava os calos da mão, criados depois de tantos mais sofrimentos da mesma estirpe, e os fazia sangrar. Era como se tivesse sido arrancada de mim, de minha estrutura, uma parte vital, como se minha metade tivesse sido removida por uma navalha cruel.
Sei que qualquer dor passa, que cada momento é mais uma camada nessa cebola que chamamos de vida; mesmo assim, o momento é insuportável, a espera, interminável, a dor, quase palpável. Meus cigarros acabavam, minha tosse aumentava, meu ânimo já não existia. Meus dias acabavam e, pensava eu, um dia deixariam de se acabar. Qual o problema da presença mútua? A existência não era tão tensa assim. Os princípios, anotados, os gostos, feitos, as devidas pessoas, afastadas. Será que não foi o suficiente? Talvez tenha compreendido errado. Do que serve o afastamento das pessoas quando você, como consequência, será o afastado, por fim, ora? Sozinho por determinação interna – sozinho para ficar acompanhado. Depois, sozinho por ter querido ficar acompanhado, implorando perdão, implorando mais migalhas. Sinto em me dizer, mas a prova cabal fora o descomprometimento que, em tempo, também fora notado e anotado.
Que fim leva o sentimento?
A tarde caía; o cigarro que fumava me deixava transparecer o tédio da falta daquele ser único e tão igual a todo o resto. Desprezado, só me resta o nada, o vazio da tarde, o desespero. Há poucas coisas mais depressivas e repulsivas do que o desprezo. O sentimento de cada soco esporádico que eu dava na parede (um de meus muitos métodos de aliviar a dor interna era produzindo a dor externa) me fazia esquecer por um segundo a minha angústia, mas rebentava os calos da mão, criados depois de tantos mais sofrimentos da mesma estirpe, e os fazia sangrar. Era como se tivesse sido arrancada de mim, de minha estrutura, uma parte vital, como se minha metade tivesse sido removida por uma navalha cruel.
Sei que qualquer dor passa, que cada momento é mais uma camada nessa cebola que chamamos de vida; mesmo assim, o momento é insuportável, a espera, interminável, a dor, quase palpável. Meus cigarros acabavam, minha tosse aumentava, meu ânimo já não existia. Meus dias acabavam e, pensava eu, um dia deixariam de se acabar. Qual o problema da presença mútua? A existência não era tão tensa assim. Os princípios, anotados, os gostos, feitos, as devidas pessoas, afastadas. Será que não foi o suficiente? Talvez tenha compreendido errado. Do que serve o afastamento das pessoas quando você, como consequência, será o afastado, por fim, ora? Sozinho por determinação interna – sozinho para ficar acompanhado. Depois, sozinho por ter querido ficar acompanhado, implorando perdão, implorando mais migalhas. Sinto em me dizer, mas a prova cabal fora o descomprometimento que, em tempo, também fora notado e anotado.
Que fim leva o sentimento?
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