racionalizações.

Tende-se a acreditar nas coisas boas que se pode aproveitar de uma coisa ruim que aconteça com a gente. Desse modo, parece que a sorte de fatos não foram em vão. Ao longo do tempo, tive essa sensação em grande quantidade: não que eu tivesse muitas coisas ruins acontecendo comigo ao longo do tempo, mas algumas me marcaram. E todavia existe em mim uma necessidade de sentido nos fatos do mundo, efêmeros, eu compreendo que essa caracterização - do sentido das coisas ruins, e que elas têm de ter motivos para acontecer, ou das coisas boas como compensação cósmica das coisas ruins que tiveram de acontecer - e como ela não pode existir, de um ponto de vista humano estritamente racional. E portanto me deixa deveras receoso quanto à visão de mundo que ela possa eventualmente criar em mim, e se de fato já a criou, pelo menos em algum nível que fosse. 

Acredito piamente na falta de sentido dos fatos, mas somente desse modo racional, menor, calculativo. Essa falta de sentido me faz ver as coisas de um prisma bem particular, como todas as resoluções racionais fazem. Mas isso cria um embate eterno entre minhas resoluções de teor mental com as resoluções do hábito. Essa última cria padrões de comportamento e emoções que diferem de minhas resoluções mentais. Uma visão cristã por excelência [seja ela de origem cristã ou seja originária da visão cristã], essa da procura de sentidos na existência é uma das maiores presunções existenciais que a espécie humana já fora capaz de fantasiar. É similar a dizer que nosso sentido é importante para uma máquina maior, parte dela e que há um propósito e um cronograma preestabelcido para que nossa existência seja como é - pesada e cruel. 

 Talvez exista a máquina, no entanto, e a liberdade que considero aqui seja intrínseca a ela. Portanto, o que eu fizer dentro de meus limites são limites dados pela máquina em si; desse modo, "faça o que quiseres [ou puderes] pois é tudo da lei." Ainda assim, pensemos a respeito: e se não quiséssemos fazer parte? Ora, é uma possibilidade. Somos obrigados? Se assim fôssemos, seria uma obrigação partida da máquina, e seria expressa por inteiro por ela. Uma ditadura do sistema, portanto. Por minha vez, eu nunca vi, no entanto, a máquina me obrigando a nenhuma ação sem o mínimo de livre escolha. O que temos é uma necessidade de viver, sim, de acordo com limitações imposta por ela. Em contrapartida, uma religião e seus escritos tem estatutos obrigacionais à maquina, à grande criadora. E isso nos torna - devedores? 

Talvez exista a máquina, no entanto, e a liberdade que considero aqui seja intrínseca a ela. Portanto, o que eu fizer dentro de meus limites são limites dados pela máquina em si; desse modo, "faça o que quiseres [ou puderes] pois é tudo da lei."

Comentários

Postagens mais visitadas