inverno

De onde vem esse vento gelado? Da soleira da porta entreaberta, ou da fresta da janela que dá pra rua? Talvez venha do vazio, da frieza da alma estática ou das lágrimas salgadas que o vazio traz.

E ele já não suportava tanto pesar e pena de si, nem de se sentir essa pedra gelada. E nessa querência ele passou a odiar as coisas pequenas e comentários esdrúxulos que ainda não aconteceram. E a falta que fazia já não faz mais, porque a vontade de distância o fez querer o novo e eficaz contra o sal no rosto. Porque esse tempero da alma que rola até o chão do poço diz que esse moço oco tem um quê de solitário, algo que o faz adorar o frio. O calor do cobertor lhe impede de sentir o frio do lado de fora, e o lado de fora importa mais do que o lado de dentro, onde a segurança é simples e superficial, justamente por ser o constituinte do lado de dentro.

É assustador quando a necessidade da morte do efêmero seja desejada e, ainda mais, quando se torna a única busca. Só assusta, mais ainda, quando a criança desce do berço pela primeira vez. E quando desce, bate a canela, a cabeça e todo o resto, até entender que a dor é a afirmação da vida como ela é - "um pêndulo que oscila entre o tédio e o sofrimento". Seu corpo se torna um apêndice da mente, com funções básicas funcionando à beira do desligamento. Até perceber que o sol lá fora é a única busca que vale a pena, e que, ao contrário do cobertor quente entre quatro paredes, é o que deve mesmo aquecer o frio dos ventos.

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