À crueldade, we say hey!

Escrever é interessante, por vários motivos. um deles, claro, é o desabafo moral. A consciência, seja lá o que isso for, quando abalada, pré-compõe grande parte do que eu coloco em papéis; portanto, justamente por escrever por puro prazer, acho chato quando estou feliz (contraditório é a mãe). Sinto que a felicidade, mesmo que momentânea, tem uma função desonesta com a reflexão de tudo que me envolve, e duvido que seja só comigo. Talvez por isso eu prefira estar sozinho. Talvez por isso também que eu me afasto de quem eu gosto. E talvez, só talvez, eu seja frio quando não deveria, e vice-versa.

Conversei com um amigo recentemente, justamente sobre o assunto. Ele me disse algo sobre as pessoas de grande capacidade intelectual serem sozinhas e, perdoe-me o latim, fodidos. Se não o fossem, talvez a chance mínima de eles pensarem em metade do que pensaram, concluíram e mudaram não tivesse sido maximizada a ponto de valer cada esforço imbuído nessa premissa. Óbvio, jamais irei aspirar a ser qualquer coisa grande partindo de uma vontade aleatória, só por querer ser grande. Jamais, por exemplo, me compararei a grandes pensadores, ou, por assim dizer, arquitetos, sejam lá eles quem forem; se são grandes, são sequer comparáveis a mim, e já é o suficiente ser um trabalhador inferior que trabalha em sentido oposto à ignorância (John Locke "disse" isso, não eu). De mesmo modo, jamais irei sequer tentar aprender pela grandiosidade em relação aos meus; vejo tal ação como um desparate ridículo. A minha compreensão pessoal acerca de tudo que me circunda já é a saisfação necessária e a que desde o início procurava, e deveria ser o suficiente; ao meu ver, é.

Portanto, quando o mundo é cruel, eu escrevo. E sinto que preciso deixar os restos em palavras. Os restos são conclusões, o resto é a faticidade da vida. Se pensar é mudança, essa crueldade é a mudança da alma, do íntimo. Para grandes, o resto é, por exemplo, Memórias de Subsolo, Crime e Castigo, Irmãos Karamazóvi - isso, só pra citar Dostoiévski -. Dá para ficar um bom tempo citando o que a crueldade dos fatos criou. Dostoiévski era epiléptico e quase foi fuzilado. Ou seria Nietszche a pessoa mais feliz, jovial e sem problemas do mundo? Teria Sartre, naquela tarde linda de domingo, com seus melhores amigos de infância, todos alegres bebendo champagne, simplesmente pensado, sem nenhuma correlação externa, de que "o inferno são os outros"? Claro que ele estava feliz, certo?

A vida não é legal, sequer pense o contrário.

Comentários

  1. cara...concordo plenamente, na vida há felicidade, mas não é uma constante, muito pelo contrario.
    enfim, como se escreve bicman? kkkk...
    muito bom, serei uma leitora fiel.
    bejao

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