Devaneio #1

     Como começar uma poesia?

     Com palavras tortas que não valem o esforço? Ou com um amor desmantelado pela tarde sem o samba? Não tem fórmula, não. Não tem tempo também, nem peso. Poesia vem depois de momentos que a valha, é de quem a vive. É única e intrasnponível. Talvez se veja um pouco da própria realidade na poesia do outro, mas ainda é do outro. E sua também, por ser bela, solene e comumente de insuportável verdade, mesmo que seja mentira. A beleza tem seu lado feio, também. Tragédias gregas em um quarto de hotel, carros de luxo se decompondo ao léu, luz da lua - luxúria engarrafada com teor alcóolico acima do calculável - suficiente para desmembrar a moral do indecente e fazê-lo chorar de joelhos à santidade dos porcos.

     À nuvem que se encontra dentro destas paredes associo o ardor de meus sentidos. Motivo indignantemente pré-designado e com reação esperada, com o velho fifty-fifty me contando a sorte ao pé do ouvido a cada aspirada forte que me faz tossir. Abro a geladeira e retiro minhas... botas? Há algo estranho aqui. Botas? Costumava guardar as cervejas nessa prateleira. Botas?! Quem foi o engraçadinho? Fecho a geladeira. Louco? Doente. Doente e louco. Doente, louco, doente e repetitivo. Terra de ninguém, sem ninguém lá. Ou terá, esta terra, índios? Ou terra de ninguém, ou terra de índios. Tome prumo, decida-se, rapaz.

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