Sonho?

Há um tempo atrás, numa das poucas reuniões de bêbados e alucinados que freqüentei em minha vida, por acaso do destino e por causa da minha falta de dinheiro constante, encontrei uma garota. Ela tinha companhia. (Elas sempre têm).

Isso não me impediu, no entanto, de fazer aquilo que sempre faço: ir contra o Pai. Companheiro, talvez você não tenha a mesma impressão que tive aquela noite apenas por ler isto. Seria impossível, de qualquer forma.

Eu nunca havia me sentido daquela forma. Tinha vontade de tirar-lhe as roupas e fazê-la entender como me sentia, por olhar seu corpo. Desejo de arrastá-la para a grama e fazer-lhe amor até os corpos se esgotarem. Eu realmente não me sentira assim, antes.
Ainda tenho reações corporais quando penso naqueles seios, como agora, enquanto redijo este. Penso que até as deixei transparecer, aos amigos da noite (aqueles que você ou sabe que nunca mais vai ver, ou deseja que tal não aconteça), tais reações. Não me importo.

Durante as horas lá presente, sob o divino efeito, fechei meus olhos por alguns momentos. Era como pular de um trem em movimento diretamente dentro de uma corredeira. Tudo que eu desejava deveria tomar horas, no mínimo; no entanto, cinco minutos me eram suficiente.
Falava freneticamente com ela; resumi minha noite nisso. E em algumas cervejas baratas, é claro. Sem uma considerável quantidade da segunda, a primeira seria intocável demais para troca fútil de palavras.
Estava a ponto de copular com minhas calças.
Assim foi a noite toda. O frio veio, a noite veio, a bebida se foi, os amigos não tinham mais seus olhos. Ela foi a banhar-se, desconheço exatamente em que horas isso ocorreu, estava perdido.
Nela.
A imagem da água em seu corpo me torturava.

A verdade é que eu estava pouco me lixando com o que dizia, concordava ou discordava conforme as ondas em seus cabelos. Dizia algo só para poder vislumbrar seus lábios movimentando-se, com o puro intuito de aumentar meu desejo sobre eles.
Desejava-a, todos os seus lábios e qualquer extensão de pele que os seguem. Não era perfeita, mas era a mais próxima desse estado que eu poderia encontrar em um raio de 150 km, sem muita procura. Fora disso, já havia encontrado.
Lembro-me que por volta das quatro horas da manhã, o frio já perfurava minha pele e instruía meus ossos a me corroerem por dentro. Meu calcanhar não me deixava em paz, menos ainda, minhas articulações. O divino efeito, no entanto, ainda me segurava, e me segurava nela, ao mesmo tempo. Mãos nos bolsos, claro - nunca fui tão desprovido de timidez. Talvez se fosse...

Imagino que esse desejo por tal corpo não tenha me surgido por poder divino.
Não, de fato não foi. Hei de explicar.

Há um tempo atrás, nessa luta desgraçada por números, encontrei um pedaço de aceitação, e foi justamente num prédio azul espelhado, num desses comuns em nossa cidade. Diz-se ver seu futuro em seus reflexos. Lá, encontrei outra garota (para ser sincero, julgava ser esta quando vi a segunda pela primeira vez...). Oh, seu rosto era mágico. Uma louca dos cabelos negros o viu da mesma forma, apenas mais rapidamente, claro. No entanto nunca deixei de pensar naquilo, eu tinha incríveis desejos. Ela, incríveis curvas.

Maldita mente me impedia de uma filtragem da estupidez em mim, eu nada fazia além de perseguir o café e seus passos. Maldito sejam tais números. Eu tinha a impressão de ser uma bomba, que quando fosse para explodir, peças de excremento acertariam nas faces certas. Ainda me sinto assim, portanto imagino que seja fácil de deduzir minha situação agora.
Essa garota, eu a espreitava. Observava-a pelas costas, era fraco o suficiente para não encarar seu olhar, ou qualquer outro. Minha conexão com ela era estritamente com seu corpo: sua mente não me interessava, apesar de se mostrar completamente apaixonante. A seguia como faz um investigador atrás de suas pistas. Descobri tudo sobre ela, porém mal lhe dirigia a palavra. Será que esse é o berço de ouro que dá vida a psicopatas? Quando, ao cair da noite a cruzava num local de pouca iluminação, tinha aquela vontade de arrancar-lhe as roupas. Único.

Voltemos ao sonho. Essa noite, meu desejo “veio a se realizar”. Não sabia distinguir qual delas eu estava imaginando, prefiro pensar que era aquela que desejei sob efeito do álcool.
Eu a tive. Virtualmente, é claro. No meu sonho, estranhamente, ela desejava outro corpo feminino, curioso. Deixou sua amante para me dar um beijo macio, daqueles que raramente se recebe, de desejo recíproco. Aqueles lábios... Foi tão bom. Tão bom. Tão bom.
Despi-a de forma a me satisfazer com o olhar, de forma animalesca; fui fundo. Lembro-me de cada detalhe, cada som. Era tão real, tão... divino. Estava feliz como nunca fora antes, de olhos abertos. Eventualmente, meu pai haveria de, como o faz sempre, frustrar meus sonhos, como de fato o fez. Tinha de voltar à minha velha busca pelos números.
E, eis que aqui estou.

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