roma.

Esta é uma carta de amor.

É a primeira vez que escrevo uma. Não é, no entanto, um amor que você espera... diria até que é um amor improvável. Um que talvez fizesse bem não ter tido, mas não valeria isso para todos os amores? Pois bem: para todas as histórias bem contadas, um amor que começa sem previsão de começo ou fim é a luva morna para a mão fria.

Eis, tu que lê, que este é um amor dolorido. Um que disputei, ganhei e perdi mais vezes do que tenho dedos ou coragem pra contar. Um por qual chorei sem derramar uma lágrima, salvo engano. Disputei por ela com ela mesma, com outros, comigo mesmo, com garrafas de bebidas adocicadas ou não, com o lado da cama, com o som alto do bar. Com ela, disputei copos de cerveja e mãos bobas, mas, acima de tudo, com nosso tempo curto que insiste em passar. Por vezes, até disputei com atenção não desejada. A ela, jurei um tapa na bunda e dias de de paz, não necessariamente nessa ordem - a ela, veja você, a quem daria tudo, tudo mesmo, pra ver sorrir, só consegui prometer previsões bobas e estatísticas infundadas.

Esqueço-me sempre das nossas regras. Estas, que nunca dissemos em voz alta para não estragar, são meu maior pesar. Parece sempre que temos mais problemas do que realmente temos: ela, aquele belo pedaço de orgulho, da pele morena, que não se curva sob pressão. Nem sem ela. É um dos meus traços favoritos, este. Veja você... creio que o que me atrai é precisamente uma das razões que nos causa atrito.

É um amor estranho. Um amor que surgiu com uma vontade anormal de ter um corpo sobre o outro, como quase todos. Um que começou por causa de um batom forte, um bigode falso feito de uma mecha, e oscilou por causa das expectativas sobre tudo, transformou em uma linha de chat de suporte emocional bidirecional de fim de noite. Depois, mutou em traição imaginativa das proibições que nunca têm fim. Eu reprovo os projetos de amor dela, ela reprova os meus. A gente evoluiu do tesão descontrolado para um amor improvável mas poderoso. Um que eu deixei a desejar, há muito pouco tempo.

É, talvez eu não mereça esse amor. Porque eu amo, mas não sei onde enfiar tudo o que eu penso.

{Texto antigo, pensamento novo.}

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