Resoluções finais de um dia inútil:

"Acho que agora compreendo menos e me importo menos com a solução..." 

Eis um trecho de uma música de um conhecido meu, cuja qual "muito me apetece". Principalmente este trecho, e especificamente nesses dias mais recentes em minha vida, porque estou descobrindo fatos novos que eu desconhecia até então sobre mim mesmo. Ainda que se, por outra perspectiva, eu seja o mesmo menino despreocupado e sorridente de sempre, estou mais maduro, e sinto o peso disso em minhas costas e, também, suas "recompensas". Liberta-me de alguns medos, como o medo de morrer sem um sentido para a vida; devagarzinho esse medo se torna a certeza da falta de sentido que já é intrínseca à existência - mascarada pela invenção humana que parte do medo de ser sozinho e de não ter um motivo para existir - que faz ter menos medo das consequências de tudo que ocorre em sua volta. Eu sou finito, e é belo sentir essa finitude no que trata da valorização de si mesmo, de divinificação de si mesmo como forma de compensar a falta que algo superior me viesse a fazer. Eu sou a minha grande invenção e meu deus.

O que é a vida?  
Desprendendo-me de definições biológicas, gosto de caracterizá-la como algo inseparável ao pensamento. Pois, como se poderia conceber a vida se não se pode processar suas implicações e suas repercussões? Um cão ou alguém em estado vegetativo jamais definirá ou refletirá sobre a sua e as outras existências a seu redor. Portanto, se cada ser humano presumivelmente dotado de racionalidade seria capaz de dar uma definição ou dedicar uma reflexão à vida, por simples que esta seja, ou de forma biológica ou de forma a abarcar somente a vida humana no sentido de um cotidiano, como a trama de um filme e seu sentido final, então, cada um desses seres humanos seriam capazes de viver, e o são. O resto é existência. Um cão, uma pedra, um recém-nascido, todos eles somente existem, pois não são dotados de racionalidade. A vida é - talvez não de todo, ainda que em grande parte - pensamento. Eu não me preocuparia com a vida se eu fosse um cão.
Então, valho-me a mim mesmo por meus esforços; a minha vida é minha por ser a minha perspectiva a única da qual disponho contato com o mundo interagível externo ao meu pensamento. E quanto mais fico independente enquanto ser, mais posso afirmar categoricamente que o mundo é sorte. Como consequência de meus esforços de definir-me a mim mesmo, afirmo que jamais cogitei suicidar-me, por exemplo. Talvez me fosse plausível essa possibilidade num momento de dor no qual não pensasse corretamente de acordo com meus próprios princípios; no entanto, eu não poria fim a minha vida por esta ser miserable, ou seja, diferente do que eu presumisse naquele dado momento que fosse o que eu quisesse que acontecesse; no entanto, isso não torna a vida, necessariamente, melhor ou pior, só - como dito - diferente do que os desejos a supunham. 

Assim como a vida, todo o resto é consequência de inúmeros fatores independentes submetidos às mesmas leis da natureza, e estas são passíveis de um "efeito dominó". Inúmeros eventos, por exemplo, aconteceriam, sem possivelmente poderem ser previstos ou concebidos, quando sua namorada te deixa por outro, em todos os âmbitos possivelmente concebíveis que a envolvem - o que ela queria da vida naquele momento de sua vida e no que esta vida implicava, o que ela sentiu quando viu o outro, como ela o viu, sob quais condições e em qual ambiente, como estava sua predisposição sexual no momento em que se deu o interesse, se este foi recíproco (e, se o foi, quais situações o outro se encontrava), quais eventos que lhes permitiram travar conhecimento um do outro, etc. Há inúmeros fatores, no maior sentido que esta palavra pode ter.

Portanto, a vida é questão de sorte - má sorte incluída.

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